Sou vereador em terceiro mandato e já vi e vivi muitas coisas na Câmara Municipal de São Caetano do Sul. Afinal de contas, são mais de 10 anos cumprindo as obrigações legislativas para as quais fui eleito.
Apesar de toda essa vivência, eu nunca havia chegado em casa tão triste após uma Sessão como na última quinta-feira (14). Depois de mais de quatro horas de Sessão, a extinção da Fundação Anne Sullivan foi aprovada, apesar do meu voto contrário.
Para quem não conhece, a Fundação Anne Sullivan tinha uma trajetória brilhante no atendimento a pessoas que possuíam necessidades de um olhar especial em virtude de dificuldades físicas ou intelectuais severas. Lá eram ministradas terapias e oficinas, além de atendimento na área pedagógica, por meio da escola da instituição. Foram mais de 45 anos de atuação em nível de excelência reconhecida em todo o País.
Essa decisão insensível e absurda foi articulada pelo atual governo, que dificultava a matrícula de novos alunos na escola há muito tempo. Por isso, mesmo havendo demanda, o número de jovens atendidos vinha caindo ao longo dos últimos anos. Me parece claro que o esvaziamento da instituição foi orquestrado pelo governo.
Os planos para a extinção da Anne Sullivan só vieram a público no fim de 2022, quando a Prefeitura impediu a rematrícula das crianças para 2023. Foi neste momento que iniciou-se uma grande mobilização de familiares dos jovens atendidos pela Fundação contra essa medida.
Assim que tomei conhecimento sobre o assunto, me juntei ao movimento e procurei fazer tudo que estava ao meu alcance para que o fechamento não se concretizasse. Divulguei abaixo-assinado, fiz parte de manifestações, participei de análises de cenários jurídicos para impedir o fechamento, utilizei meu espaço na Tribuna para criticar a medida e pedir bom-senso da Prefeitura.
Tudo em vão. A ausência de sensibilidade e de capacidade de ouvir a população, características dessa gestão, novamente falaram mais alto. A falta de humanidade venceu.
O argumento da Prefeitura para a extinção da Anne Sullivan é a construção do Complexo de Atenção à Pessoa com Deficiência, projeto que teve as obras recém-iniciadas e que deve ficar pronto apenas em dezembro de 2024 – e que poderia funcionar tranquilamente em parceria com a Fundação.
Chama a atenção também que a Lei Orçamentária Anual (LOA) elaborada pela própria Prefeitura para 2024 prevê um repasse de R$ 8,5 milhões para a Fundação, o mesmo valor dos anos anteriores. Ou seja, há espaço no orçamento para a manutenção dos trabalhos da instituição.
O resultado disso é que temos crianças que estão perdendo qualidade de vida dia após dia. É por isso que esse assunto me deixa tão indignado. Os maiores prejudicados são as crianças, mas a derrota é de toda a cidade.